quinta-feira, 2 de julho de 2009

# A vida do meu sertão



... o amor despertou nessa árvore viva, numa estação sem folhas, dando a impressão de está seca, pois, somente fica o caule e os galhos, como ocorre aqui na flora do sertão. Ocorre que vem a chuva e ao cair sobre as árvores, num dia trás o poder da vida e num passe de mágica tudo se transforma, o que era seco torna-se vivo, o que era um arabesco, ganha formas suntuosas, o que era cinza ou marrom apropria-se do verde mais lindo que existe em todas as suas nuances, mais claro ou mais escuro.

Tudo em nossa caatinga numa parte que é mais sem chuva e severa no sertão, a natureza se reveste de beje, ás vezes um pouco empoeirado, o mato revela sua forma toda retorcida, por vezes com composto por árvores retorcidas e miúdas, o pasto para o gado fica em touceiras, quase mortos, mesmo após ter sido humilhado e pisoteado pelo gado, os morros, as serras de longe ficam sem brilho e sombria, até quebradiças, as folhas espalhadas pelo chão e os gravetos misturados em meio ao húmus.

Mal começam a cair as primeiras chuvas de outubro e tudo se enverdece, muito visível no mato da beira das estradas, uma pintura é aplicada nas montanhas como se um pintor tivesse passado o verde por toda sua extensão. A paisagem num piscar de olhos é transmudada a da paisagem tétrica e lúgubre, na qual apenas lembra a carência e uma vida nada generosa.

Nesse poema, vou me endividar com um colega Paulo Sérgio, não é poeta, mas, num instante de inspiração disse: “amigo: quando a chuva cai nesse sertão é como contivesse uma tinta verde, pois, no outro dia tudo fica VERDE’. Foi nesse dia que descobri que os cientistas se equivocaram ao atribuir a água a cor inodora. Com todo respeito a esses homens da natureza, a cor da água para nós do sertão É VERDE.

Já na alvorada os pássaros gorjeiam com maior intensidade, os animais parecem crianças com suas atitudes lúdicas, brincam, correm, esperneiam e pulam. Tudo se tornam um louvor a vida, celebrada em suas múltiplas formas. Poca o verde da madeira, cantam os pássaros e toda planta vai enchendo de gratidão, com flores, frutos e muito verde. Os homens se inebriam como as mulheres, crianças e idosos, do homem do campo ao da cidade da chuva, para nós do sertão é o símbolo da vida, da renovação, da beleza, dos alimentos, da vida que permanece sempre generosa e altaneira.

Vem lembrar ao ser humano que por mais que uma tristeza o assole, tire suas folhas, deixem-no sombrio e pisado como as touceiras de capim a chuva vai vir e vai banir de uma vez tudo que não é vida. Essa vida que estava escondida vem à tona com todo seu verde, seu desejo por tudo que é intenso e vibrante... a vida que ressurge em toda sua volúpia e encanto. No fim insuportável e desalentador, também do medo, da morte e da tristeza a chuva para nós é a esperança, para alguns uma virtude passiva, mas, para muitos a esperança é essa chuva, símbolo da vida e que renova o mundo e os corações do homem, acima de tudo A VIDA em toda sua ousadia, a vida-verde, a vida viva.

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