terça-feira, 29 de dezembro de 2009

- A festa começa dentro da gente (Crônica)

Logo pela manhã, minha cunhada, me pede para ir pagar a conta de água no SAAE. No percurso, precisamente na Praça da Feira, encontro Osmar Santos, radialista da cidade de Igaporã, que trabalha na FM 106.
“Bom dia” – Ele me cumprimenta.
“Oi comunicador”
“Tudo bem?”
“Tô na área.”
Após, uma troca de palavras pergunto:
“Ta animado para as festas?”
“A festa primeiro acontece dentro da gente, quando estamos animados, com bem-estar, alegria, amor, amizade e saúde, a partir daí é uma conseqüência. Por outro lado, não adianta ter a melhor banda na cidade, as pessoas mais influentes e as melhores bebidas, se você tiver deprimido, triste, mal-humorado, contrariado e com raiva, a festa não vai ser boa.”
Respondi para ele “gostei do que você falou”
Falamos mais algumas coisas e na hora de despedir ele me perguntou “onde as pessoas mais buscam alegria”
“Onde?” Perguntei. “Num bar.” Respondeu.
Completei “ou afogar as suas tristezas”.
Uma crônica surge de um momento simples, sem projetar nada e com naturalidade, de ambientes comuns, personagens comuns, conversas comuns, bastar ter um olhar de valorizar as pessoas, os lugares e nossas conversas, é desta simplicidade quando vista com carinho que a vida se torna especial e importante.
Atribuo o conteúdo da mensagem a Osmar Santos, a única coisa que fiz foi escrever, isso reveste o fato de importância e – marca – para sempre, além de passar uma mensagem de sabedoria e vida.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

O extraordinário

A coisa mais importante na vida é quando você consegue transformar o comum na coisa mais extraordinária. É assim que faz os grandes homens. São todos como nós, tão comuns como eu e você, com a diferença que descobriram um jeito especial de dar um toque mágico ao comum. Todos passam e viam a mesma coisa, mas, alguém conseguiu transformar em algo novo. Desta forma aprendemos que todos os lugares são especial, que todas as pessoas são formidáveis, que todos os fatos são importantes, todas incomuns, porque tudo na vida depende, não do que e como acontece, mas, de como as pessoas vêem interpretam, vivem e escrevem a vida. A poesia, a beleza e a importância da vida, não estão só nas coisas, mas principalmente, nos olhos de quem a ver.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

= Só Vai no Empurrão



Sei muito bem, que é adequado escrever na primeira pessoa do plural, mas, devo admitir que ao escrever sobre um defeito meu, seria injusto estender a todos, assim, é uma questão de justiça escrever na primeira pessoa, usando, claro, o “eu”.
Alguém já me disse, “Zenilton só vai no empurrão”. Sujeito de personalidade, quase sempre calma, introspectiva, lenta, contemplativa, observadora, afável, seduzido por suas predileções, deste modo, incorre por vezes, num certo relaxo em tomar algumas atitudes.
Hoje, 04 de dezembro de 2009, a vice-diretora do Colégio me liga, “Zenilton, os alunos estão aguardando as notas e espero que você venha passá-las na caderneta”. Penso que ninguém gosta de ser cobrado, contudo, me ensinaram que um gesto nobre do ser humano é reconhecer o seu próprio erro. Isso para mim é uma virtude rara, até. Quantas pessoas se justificam, outras até se irritam e jamais admitem - eu errei.
Para ser exato, há uns anos atrás ouvi alguém falando do seu defeito em relação ao marido. Admitiu, obviamente, não na presença do mesmo, – sei que tenho errado, mas, é claro que não vou falar pra ele, porque senão vai se achar – essa confidência revela muito da consciência do ser humano referente do certo e do errado. Veja bem, a pessoa em seu espaço mais recôndito – na consciência – sabe que errou, só não admite.
Senti ao telefone, certa letargia, a consciência cobrar mais responsabilidade por cumprir os deveres, apropriar de mais energia e vigor para as coisas que devem ser feitas, libertar da passividade e me convencer, acima de tudo, assumir a luta de cumprir os deveres todo santo dia, a cada nascer do sol.
Ter o exato sentido de ser independente, livre, responsável pelas coisas que realmente devem ser feitas e em tempo hábil. Sem precisar que ninguém me cobre pelas minhas responsabilidades, sem precisar que alguém diga, olha você precisa fazer isso ou aquilo, entregar o livro na biblioteca, o filme está atrasado para entregar na locadora etc.
Com tudo isso, eu sei que é necessário ser responsável, mas, é preciso mais, não é só uma apreensão intelectiva por um dia ou dez dias ou um ano, para ter atitudes responsáveis. Não é entrar numa neurose imperativa kantiana, que cansa, “Tu deves”. É, sobretudo, todas as manhãs acordar para ser um homem, uma mulher de decisão, de ação, que “arregaça as mangas”, se enche energicamente de disposição e parte para a luta. Tenho que ser responsável – só hoje – e, cada manhã que me levanto. Destarte, sendo um ser de ação e tendo espírito de iniciativa, eu mesmo me empurro, sem que não tenha que ouvir novamente “Zenilton só vai no empurrão”, e vai que alguém, num dia destes, resolve mesmo “me dá um empurrão” (risos).

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

= Saudade


Igaporã, 25 de outubro de 2006

Palavra tão simples, tão só.
Tão só estou.
Como a distância faz as árvores,
As torres e aumentarem para longe.
Cresce você em mim.
Um imagem, rica, nostálgica
E vazia.


Não te encontro nas coisas.
Sinto só em mim, assim...
Estás em tudo.
O tempo é matéria
Herança da minha memória.

O céu, o inferno,
Matizes de eu e tu.
Histórias, sonhos..
Tudo parecia tão eterno.
Aprendi a não ter medo do tempo.
Na estrada caminhávamos distraídos..
Não pensava o fim.
Sua presença me enchia de alegria,
De um dia que completava em você.


Hoje, não existe matéria.
Não existe você.
Invisível dentro de mim.
Sinto sua presença no tempo
No espaço do meu ser,
Teu riso abstrato.
As minhas mãos, meu olhos...
Sentem saudade,
Já não podem te tocar,
Neste vazio do espaço.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

= Conversa Solta



IGAPORÃ, BA. 14 DE FEVEREIRO DE 2006


Quando leio eu escuto e quando escrevo eu falo. Sinto falta de conversas profundas. Para estes assuntos tenho encontrado amigos nos livros. Como tenho me interessado em leitura! Quanto mais escrevo maior é o desejo de ler e quanto mais leio me provoca a escrever.

Tenho me sentido solitário nesses últimos meses. Gosto muito do quarto da minha mãe, o qual eu ocupo e é “meu” e não dela. Aqui fecho a porta e abro a janela é um lugar que encontro comigo, a solidão é minha companheira... leio, leio e expresso meus pensamentos e sentimentos.

Por companheiros: no final de semana estive com “Miguel Sanches Neto” e desde terça trouxe, “Ricardo Freire” e com o último, tento aprender a “liberdade para amar” desprender, deixar o outro livre e suavizar o sentimento de posse. Como é ruim. O querer prender o outro é um estar preso; se quero a minha liberdade e sentir livre, devo soltar o outro e amar sem prender; aprender a deixar o outro livre, como diz Roberto Freire:

O seu amor
Ame-o e deixe-o
Livre para amar.

O seu amor
Ame-o e deixe-o
Ir aonde quiser.


O seu amor
ame-o e deixe-o
brincar
ame-o e deixe-o
correr
ame-o e deixe-o
cansar
ame-o e deixe-o
dormir em paz¹.

É essa lição, essa liberdade que quero aprender no amor. Meu maior apego a essa vida foi a pessoas que me envolvi afetivamente. Quando não queremos perder o outro, queremos prender e ficar o tempo todo com a pessoa e querer controlar o seu jeito, pois, isso e aquilo me irrita... acabamos por nos tornar refém de nosso amor. Logo, prender o outro é prender a si mesmo. Talvez, a única forma de sermos livres, é desprender do outro, é respeitar sua liberdade... então, aos poucos devolveremos a nossa liberdade a nós mesmos.

Esse é um desafio em minha vida, um combate comigo mesmo e às vezes achamos que é impossível, mas percebo um crescimento. No dia 12 de fevereiro houve um evento na Uneb sobre Fernando Pessoa e fiquei fascinado pelos poemas. Uma pessoa que só tinha o curso primário, bucólico, sentir, sensação... seu Livro do Desassossego é ótimo e suas poesias, fragmentos uma viagem que me salva nestes dias.

Tenho muito que falar... minha vida, meus dias é uma minação... meu tema. Sou eu mesmo, quem sabe uma possibilidade para me conhecer.

“A vida com todos os seus desafios
e cansaços é apaixonante”.

= Poema da Saudade



Sou o vento.. sinta,
como uma brisa fresca a te tocar.
A aragem da tarde,
A umidade fresca grávida de chuva
o sabor das frutas, das águas
umbú, manga, melancia.
A saudade do seu carinho.
Vim te envolver com minha presença
e com um beijo fraterno te dizer:
Estou aqui com você

Permito:
que você vá,
fique sem mim.
por favor,
de quando em vez,volte.
Venha me ver!
Meu coração está a doer
e precisa do teu ser,
da suavidade do seu sorriso
e do brilho vivo dos teus olhos
para me iluminar.

(Zenilton)