quarta-feira, 25 de novembro de 2009

# Amor em conceit(os)






O conceito de amor, Roberto Freire, em seu livro Ame e dê vexame, coloca que o amor é uma palavra com um conteúdo aberto e pode ter o seu sentido distinto a partir do sistema social ou ideológico-religioso, tipo: Para um capitalista o vocábulo amor pode ter algo de posse, de meu; para um anarquista pode soar como um sentimento mais livre, sem tantas amarras, para um sistema religioso algo solidário. O que significa amar? Tem pessoas que amam como uma conta bancária, que receber tudo novamente, razão pela qual existe a expressão “jogar na cara". O amor mais sublime é o que se define por gratuidade em que a pessoa ama sem pensar em seu retorno, quem sabe o termo altruísmo, desejar o bem do outro. Sabemos contudo, que a espiritualização do amor depende da nossa evolução pessoal e compreensão de uma consciência mais elevada, na qual distanciamos do "eu" (egoísta) para a travessia para o "outro", sem que eu tenha que beneficiar pelo bem que faço, encontra-se a expressão do amor porque é um valor, sem que necessariamente tenha que ter uma, propositalmente, uma vantagem posterior em razão do bem. Não é fácil conceituar amor, está na proporção da espiritualização de cada ser, não resta dúvida que também, é um sentimento subjetivo, ainda que a algo do coletivo, mas também do interior do sujeito.

Vamos sair da abstração e partir para um exemplo material. Se partir do conceito do amor que é o bem que o outro compreende que seja o melhor pra ele, se aproximaria de um amor mais elevado, ou seja, o amor-bem. Por que me perguntaria usar essa expressão dando a entender que existe o amor-mau? Naturalmente que sim, isso joga por terra a expressão que, nem sempre é adequada em todas as circunstâncias, “amar é fazer o outro o que gostaria que fizesse comigo”.


O exemplo, um rapaz se apaixona por uma moça de caráter, agradável, trabalhadora, estudiosa e com potencial, mas, pobre, quem sabe negra e que não tem uma família tradicional; o rapaz é de uma família tradicional, rica e que os pais tem projetos mais ambiciosos e mesmo que eles se amem com todas as forças e pureza do coração, isso significa que se unirem, até mesmo um casamento seja o bem para o casal. Contudo, para os pais o bem é uma bela faculdade para o rapaz, tendo uma profissão que vai lhe dar muito dinheiro, fama, status social e desejam que se case com uma moça rica, com curso superior, talvez da cor do rapaz que viria garantir “o bom nome” ou não envergonhar a família, afinal, o que a sociedade não iria dizer?! Veja bem, isso seria o bem para os pais, os projetos que os pais tinham para os filhos.

Os pais podem chamar esse projeto para o filho de amor. É um absurdo ter essa compreensão e defender com todos os argumentos que é o melhor para o filho. Isso não é o amor-bem é o amor-mal. Não importa que o filho não saia mais de casa, que entre em depressão, sinta angustias em seu peito, perca o gosto pela vida, por sair, por estudar e viver avidamente. Não considera os sentimentos interiores do filho, afinal, não conhecem o amargor do seu coração e o que era mais importante em sua vida, independente, que a opção pela moça fosse proporcionar outro caminho e quem sabe promissor.
Do ponto de vista do filho o que os pais consideram o melhor para ele e que chamam de amor, seria o amor-mal, por que não leva em conta a sua vontade enquanto indivíduo que tem o direito de fazer suas escolhas, as opções para sua vida.

Enquanto que para os sujeitos pais o amor que eles sentem seria o bem, para o filho seria um amor-mal, pois, não levam em conta o seu sentimento e que seria capaz de lhe proporcionar felicidade, de outro lado, o sentimento dos pais lhe traz um fracasso emocional, mesmo vital, perde o sentido e o sabor da vida ou melhor, torna-a amarga, insuportável e uma grave injustiça em negar a sua individualidade em exercer o seu direito de escolher o que considera melhor para si. Portanto, o amor é subjetivo e não deve ser analisado com a ótica do “eu”, mas, também, do “tu”, sendo mais adequado pensar que o amor neste caso seria “fazer com o outro o que é melhor pra ele”, por conseguinte, o amor-bem, no qual leva em conta os sentimentos, desejos e projetos que o indivíduo acredita ser melhor para ele, isto é, unir e quem sabe casar com a sua amada.

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