quinta-feira, 29 de abril de 2010

Carta a um morto


Meu querido irmão, você desencarnou nas primeiras horas do dia 02 dia abril de 1995, em uma madrugada, na cidade de Riacho de Santana, no decorrer de uma festa. Sei do seu espírito pacífico e que não era dado a confusões, alias, não se meteu em confusão, foi no intuito de evitar que o seu amigo se metesse em uma que chamou-o para regressar à cidade.
Só que no ínterim em sair do clube do 100 até ligar a moto e se retirar do local, você não suspeitava que naquela hora seria o seu desencarne, pois, se soubesse teria corrido ou procurado se defender. Quem sabe nem se deu conta do objetivo do crime, pois, como deve ter ficado sabendo no plano espiritual, um homem chamado João de caráter bélico desferiu uma pedra de cerca de 2 kg, pelas suas costas. Segundo contaram as testemunhas oculares, o objetivo era atingir o seu amigo que já tinha confusão com o criminoso.
Você prevendo a confusão o chamou para se retirar do ambiente e ir embora. A pedra, no momento que você ligava a moto atingiu sua nuca – parte tão sensível do nosso corpo – você morreu instantaneamente,(como um passarinho) muito provável antes de chegar ao hospital. O golpe foi tão violento que seus olhos saltaram para fora, inclusive o médico teve que recolocar seu olho em sua devida cavidade. Lembro do seu olho direito, o quão roxo e inchado estava.
Não sei se você sabe, meu irmão. Mas, na noite de primeiro de abril eu não conseguir dormir. Não sair pra rua. Eu tinha 15 anos de idade. Lembro que passei bom da noite da noite ouvindo música, depois não conseguir dormir, ficava me virando na cama.
Lembro de muita coisa daquela noite e da tristeza que invadiu nosso coração. Prefiro não relembrar os detalhes, provavelmente, você deve ter havido oportunidade no plano espiritual para saber da nossa situação.
Você tinha 33 anos quando desencarnou, um rapaz jovem. Lembro do quão trabalhador você era, do homem honesto, bom irmão e de quanto amor tinha por mim, lembro que gostava de brincar comigo, de brincadeiras às vezes, tão pessoais. Sei do seu amor e do quanto gostaria que eu estudasse.
Tenho recordações suas as quais se tornaram tão especiais que jamais serão esquecidas.
Você era católico, lembro que tinha um caderno de orações, certamente, nestas buscava força e orientação para que Deus o ajudasse em sua vida. Ao mesmo tempo que escrevo essa carta, vários pensamentos emergem na minha memória, se puder lê-los ficará sabendo de coisas nossas tão intimas, não é necessário que escreva aqui. Algumas vezes notará minhas falhas contigo, mas tenho certeza que já não está mais magoado comigo, quem sabe até sorrirá.
Imagino que desde o seu desencarne assim, que lhe foi permitido, sempre veio nos visitar, sei do amor que tem por nós, por meu pai, por minha mãe e por todos nós que somos irmãos.
Queria dizer que senti muito sua falta, mas encontrei forças para viver. Naquela época acreditava que tinha ido para o céu, para não entrar em detalhes fiquemos com essa figura celeste e pueril, contudo, tanto consolo trás aos nossos corações.
Eu sei que você está bem, não baseado em psicografia, mas na certeza intima que tenho dentro de mim.
Na verdade, meu irmão, o que foi mais difícil em sua partida, não foi o fato de ter perdido um irmão, mas, sobretudo, te ter perdido um amigo. Você é um grande amigo, me dava conselhos, brincava comigo e sei, que me queria muito bem – o meu irmão mais velho.
Sei também, mesmo que hoje não esteja mais encarnado, continua unidos conosco pelo amor, quem sabe mais forte ainda.
Sei que sabe de minha vida, mas gostaria de te informar algo. Hoje sou espírita, a doutrina do Consolador prometido. É maravilhoso poder ser espírita, estudo a realidade do mundo espiritual e da vida. Já não tenho mais medo de estudar, o conhecimento vai nos revelando que o mundo espiritual é natural, é a nossa realidade e não tem porquê ter medo. É muito bom saber que somos espíritos, que a vida é justa e o bem renova-nos sem cessar, a verdade sempre é dada a cada um.
Algo me diz que você tem consciência deste momento, meus olhos físicos não podem lhe ver, diria que está aqui comigo. Obrigado meu irmão. Sei que continua seguindo seu caminho. Busco entender a morte e sei também, que como cumpriu sua missão em 01 de maio de 1995 não era mais necessário que ficasse aqui na terra. Sei que você saiu naquele sábado a tardezinha sem despedir de ninguém e sabe por que? Nós que acreditamos na vida eterna não é necessário se despedir, sabemos que não existem despedidas eternas, a vida continua e qualquer dia nos reencontraremos, por isso mesmo que nos deu Tchau, não importa, significava apenas um até breve.
O que é o tempo da eternidade? A despedida é como um “tchau”, qualquer dia nos reencontraremos. Estou indo, sem dizer nada, acolher o destino da vida eterna. Sua morte, não é o fim. A morte não existe. É apenas uma transição, morre o corpo e o espírito continua vivo, isto é, a vida continua...
A imortalidade é uma certeza. Não está escrito em livro nenhum, por que na verdade todos sabemos que o espírito é imortal, que vamos nascer e renascer muitas, centenas de vezes... para atingirmos a perfeição de espírios puros. Toda alma sabe desta verdade, os livros apenas nos lembram. Se a reencarnação não existe, à vida é a maior contradição. Um erro. Se Deus existe a reencarnação existe.
Meu querido irmão despeço-me de você. Desejo que seja feliz em seu caminho e que possa progredir o mais possível. Quem sabe ainda estaremos juntos para viver mais uma aventura em nosso grupo familiar, na saga da nossa evolução espiritual, irmanados sempre no amor de Jesus. Para quem acredita na vida eterna não existe Adeus, mas, sempre um até logo! Sendo assim, deixo o meu abraço amigo e de irmão.

Até breve.


Zenilton Fernandes.